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Senhoras com recato quase virginal, e de mediana idade cronológica, visitavam minha mãe durante variados dias do mês. Chegavam longe de qualquer anunciação, e ficavam para o café da tarde, despreocupadas e sem um objetivo delineado. Havia rosquinhas de cachaça sobre a toalha bordada que cobria a mesa da sala, e nela também um bule fumacento, cheio de chá.
O bolo de milho recém vindo da cozinha emprestava perfume aos sentidos. Nas conversas silenciosas, só o essencialmente necessário. Trocavam-se receitas de comidas diferentes, e os doces portugueses eram revelados em caldas e tachadas.
As amigas da minha mãe não demonstravam qualquer preocupação com o tempo, um ser tão abstrato quanto lacunoso, mas que desfilava soberbo perto daquelas casas invariavelmente brancas, com aberturas azuis. Para elas, a pressa era sempre dos outros, e os filhos estavam em primeiro plano quando aquelas mães discretas trocavam impressões sobre a vida e o seu pausado desenrolar. Uma vida que acontecia sem maiores sobressaltos na comunidade cercada de verde e bichos com moradia permanente no mato bem perto dali.
Então, quando o assunto pendia para os finados próximos, havia o consenso de que foram os melhores maridos, os melhores pais, os avós ideais, e que não deveriam ter morrido tão cedo, pois a falta que fazem só elas têm condições de avaliar.
Me criei vendo aquelas senhoras reservadas na nossa casa lá em São Sepé. Compareciam regularmente, e sem nenhuma pressa de pegar de volta o rumo dos seus endereços. Já as considerava como parte integrante da família, e na semana que não batiam o ponto, a gente se perguntava desconfiado o que teria acontecido com elas. Será que se adoentaram do peito, baixaram hospital? Ou foram embora para sempre da cidade, cansadas de tanto incômodo com o marido que não parava mais em casa. Para o nosso alívio, dias depois apareciam elas dobrando a esquina, como se nada tivesse acontecido, o cabelo arrumado em instituto para o encontro sagrado. Lembro que a mais gordinha e retaca delas apresentava-se com aprumo, sempre massageando um terço nas mãos, a passos demorados, caminhar próprio de quem veio desacompanhada de qualquer aflição com os ponteiros do pequeno relógio de ouro e prata que trazia junto ao pulso socado, presente de casamento do finado marido tabelião.
Não sei por quais estradas do mundo andarão aquelas senhoras que compareciam regularmente à nossa casa. Procuro nem perguntar para a minha mãe, para não deixá-la triste, pois presumo a ponta de saudade que verei surgir em seus olhos na resposta que me dará...